Juiz de
Fora, 3 de fevereiro de 2012.
Prezada Prô. Márcia:
Então,
janeiro acabou e fevereiro em rede municipal e estadual é mês de
recomeçar... Como foi a viagem de volta? Como os alunos e vizinhos ou
vice-e-versa te receberam? Aqui em JF e no Monte Castelo, chuva vem e
calor vai ou vice-e-versa. Sabiá canta cada vez mais longe, joões-de-barro se
evadiram, jabuticabeiras estão atrasadas na frutificação e quando escolas
abriram as portas havia mais prô do que alunos. Parece que ainda não voltaram
das férias, uns na roça e outras na praia e alguns nem tanto! Pois é,
prô... É estranho! Mas aí eles chamam professores assim, não é?
Pois é ... A queridíssima amiga Tia
L.H. me disse que isso é melhor que:
─ Tiaaaah!
O nosso querido
mestre Paulo Freire*¹ já havia postulado sobre isso: a desvalorização do
magistério no nivelamento com babás, crecheiras e a “dona que fica com
meu filho 4 horas em que ela tem que ensinar todo o código da língua
portuguesa + todas as operações matemáticas + estudos sociais do Brasil e do
mundo + ciências naturais e hábitos de higiene e saúde+ preservação do planeta+
direitos e deveres do cidadão+não sei o quê +...
Ufa! Que tia atarefada é essa,
hein? Mas, querido mestre ( que Deus o tenha!), querida tia ou prô
Márcia,querida Tia L.H...
Como poderia dizer
pro menino que acabou de levar uma surra do pai porque não quis carregar um
certo pacotinho ali pro “patrão”, ou pras meninas que tiveram que encostar a
cômoda na porta do quarto e não dormiram a noite toda, com medo do namorado da mamãe...
Como
eu ia dizer a eles:
─ Não me chamem de tia!Eu sou
pro-fes-so-ra !
Afinal eu era a única parenta lúcida, ou me fazendo de... que eles conhecem. Eu era a única que explicava porque há bactérias, estrelas,
anjos e como nós sobrevivemos a isto tudo! Eu era o único adulto, ou me finjo
ser, que digo a eles:
─ Parabéns! Ficou muito bacana!
Mesmo
agora que já não sou professora regente e sim bibliotecária em licença-saúde,
eles me encontram nas ruas do bairro, me abrem os braços e o sorriso, dizendo:
─ Oi,Tiaaaah!
Tudo bem! A senhora não vai voltar pra biblioteca da escola, nãooo? Ufa!
Eu só posso sorrir de volta e abraçá-los... E perguntar se começaram o ano bem. Para os que
estão no 6º ano*³, pergunto se estão gostando da nova escola, que aqui no
bairro é a escola estadual com certeza. Trocamos algumas informações e
aventuras. Falamos das fotos postadas no Facebook, pelo professor Wagner, da
Escolinha de Futebol, do Soccer-Club*² do bairro e identifico um por um:
─ Vc. está lá
e vc.também ... Vc. não! Por que?
Agora me diga: sou ou não uma tia por
parte de escola? Sou! Até
os surfistas da grama da praça e decifradores de enigmas em todas as estações,
quando me avistam gostam e querem me mostrar suas proezas:
─ Olha, tiaaaah!
O que me resta
senão dizer:
─ Valeeeu! Querido sobrinho por parte de escola!!!
─ Valeeeu! Querido sobrinho por parte de escola!!!
Então,
vamos combinar: pra gente ser feliz apesar de e por causa de ser profissional
do magistério, ser Tia, Prô ou Querida Mestra ou Doutora honoris com causa ou
sem causa, é o de menos, não é mesmo?
Abraços!
Tia Bebel.
*¹ – Paulo Reglus Neves Freire – um dos mais importantes educadores e pensadores brasileiros - 1921 /1997.
*² - Soccer – modalidade esportiva americana que corresponde ao modelo do futebol bretão e agora mais que brasileiro.
* - Mais uma das muitas mudançasna organização da Educação brasileira: A Educação Básica é composta de Educação Infantil ( da creche ao 2º período), Ensino Fundamental ( do 1º ao 9º ano), sendo que os quatro últimos anos são da responsabilidade do município e do estado).
Izabel Cristina Dutra – escrito e reescrito, em JF/MG entre 01 a
03/02/12.